terça-feira, 18 de junho de 2024

Estilhaços de Uma Jornada

Caminhando nos dedos dos pés por uma Vida,
A procura por um lar tem sido um belo percalço,
Aonde temos ido e vindo por uma aventura querida,
Por onde temos quase chegado em seu doce encalço,

Estas quase plumas são asas em cansaço enfim tornadas,
Coração solitário perdido entre uma multidão sem rosto,
Pois as braçadas são para a eternidade palpitações entoadas,
Abraçadas, envolvidas e num sorriso comovidas, porém o oposto

Também trago, pois, a morte foi o tocar seus lábios ornamentados
A felicidade, a glória, a beijo ecoado num infinito e terno momento,
Nosso reflexo mudou e somente ficaram estes mil espelhos quebrados,

Fragmentado não pela tormenta, mas pelo subtil toque desta brisa então,
Que mutilou as artérias, deixando lágrimas e sangue onde só ficou o vento,
Não quero saber se ficar aqui para sempre segurando nada para além do coração.

quinta-feira, 13 de junho de 2024

Trilhos de Ausência

Os trilhos do caminho exibindo a sua ausência,
Um último trago para recuperar destes sentidos,
Tropeção para os astros num tapete e a luzência
De um êxtase cadente dentre mil beijos perdidos,

Anseio por luz pois os vagões vão na escuridão,
Estas paredes interiores, prisão para a felicidade,
Correntes envoltas por asas quebradas, combustão,
Aqui - onde íamos de mão em mão em reciprocidade,

Invadido por vigílias ao gelado cadáver do passado,
Restos de sonho, a minha mãe partiu ainda era criança,
Com os olhos na estrada, órfão solitário, fragmentado,

Esta Vida é tempo recluso, tarde ansiada sempre distante,
O meu Amor sozinho negou esta nossa única aliança,
Parece que quem partiu é fantasma em ido instante.

domingo, 9 de junho de 2024

Estrelas Cadentes e Esperança

Esperança é a saudade que no futuro projecto,
Um destino por acontecer, um abraço a esperar,
Pois mesmo na ausência será que já estarei perto
De, apesar do silêncio, ouvir vosso eterno sussurrar?

A esperança guia-me tal estrela oblíqua e cadente,
Depositada no peito como a luz de um doce sonho,
Pois mesmo que por vezes só haja a escuridão à frente 
Devemos sempre procurar por um reencontro no risonho,

Na calma dessa esperança, essa tormenta tão próxima,
Esta alma ansiosa, solitária, vai aguardando um abraço,
Vosso olhar distante e sem promessa de volta, a lástima

De não sabermos qual o nosso fragmento, nosso fado,
Descansarei algum dia minha cabeça nesse terno regaço
Ou serei só mais uma alma perdida de um tempo eclipsado?

segunda-feira, 3 de junho de 2024

Elegia Para Orfeu

Seguirei até aos Infernos as suas lúgubres pegadas,
As suas lágrimas somente carreiros para os suspiros,
Por entre as cordas soltas destas mil liras quebradas
São elegia para Orfeu pelo enxofre que aqui inspiro,

As sombras que me acossam, a morte e a paixão, 
Resgatarei o meu Amor por tudo que é sagrado, 
Ouçam este lamento sobre a forma de canção,
Esperancei com sua melodia neste meu fado,

A tristeza é assim deste moribundo rapaz das estrelas,
É o eterno pois a fugir-lhe entre os dedos entrelaçados,
A alma em Tártaro, escapa-se em lembranças de aguarelas,

Era, pois, Eurídice a delicada promessa - a morte do poeta,
O destino, a saudade, o Ver entre si a escuridão dos olhados,
Tragédia dolorosa na dor afagado por esta caminhada obsoleta.